Profissionais do Crédito e do Financeiro precisarão de atenção a detalhes, visão macro e ações integradas
Os níveis de inadimplência das empresas têm acendido o sinal amarelo – se não o vermelho – para diversos segmentos de mercado, demandando análises ainda mais criteriosas aos profissionais que atuam nos setores Financeiro e de Crédito e Cobrança, das indústrias.
Neste contexto, propor ações multisetoriais será decisivo para a tomada de decisões com foco na saúde dos negócios.
Cenário atual: Serasa e Datafolha mostram escalada da inadimplência
Segundo o levantamento mais recente da Serasa Experian, 6,3 milhões de empresas brasileiras estavam com dívidas atrasadas em setembro. O número registrado representa um recorde, sendo o maior da série histórica da pesquisa, iniciada em março de 2016.
Alguns prejuízos já são observados no mercado, como os contabilizados pelo Indicador Nacional de Atividade da Micro e Pequena Indústria do Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo (SIMPI). Realizada pelo Datafolha, a pesquisa mostra que a taxa de inadimplência sofrida pela indústria foi de 28% para 40% em setembro/outubro deste ano, no comparativo com o bimestre anterior (julho/agosto).
Outro ponto nevrálgico do indicador é a escalada da ausência de pagamentos em relação ao faturamento das indústrias. Esse aumento atingiu sete pontos percentuais, por exemplo, em casos que correspondiam a dívidas não honradas de até 15% do faturamento (gráfico abaixo).
Indicador Nacional da Atividade da Micro e Pequena Indústria | Set-Out/2022 (Página 2) Disponível em http://www.simpi.com.br/simpidatafolha.html
Efeito cascata: queda nos lucros e aumento de prejuízos são desafios
Em uma crise global como a atual, os aspectos que culminam em um cenário de mais inadimplência em empresas são diversos e inter-relacionados, estando entre eles o comportamento do consumidor final.
“Observamos o maior saldo de retirada líquida de poupança desde 1995 e, embora tenha havido redução do desemprego, estamos com o salário médio muito baixo”, pontua o especialista em gestão, reestruturação e turnaround, Max Mustrangi, direto da consultoria Excellance, sinalizando a redução de poder compra das pessoas como um dos fatores de impacto relevante no caixa das empresas.
Outro ponto mencionado por Mustrangi são as quedas em lucro líquido observadas em instituições bancárias, evidenciando o que ele considera um “derretimento do mercado”.
“Com redução de lucros e aumento de prejuízos, as empresas também passam a deixar de pagar o que consideram menos importante”, diz o especialista. Neste contexto, muitas vezes, as corporações começam a buscar financiamentos para arcar com despesas para as quais essa tomada de crédito não é indicada, o que Mustrangi considera representar uma “espiral perigosa para os negócios”.
3 dicas para quem atua no setor de Crédito e no Financeiro
Com olhar preventivo, diante do aumento da inadimplência, especialmente considerando negócios B2B, separamos três dicas do especialista para os profissionais que estão na linha de frente da concessão de crédito nas indústrias. Confira!
1 – Tenha em mente que vender mais nem sempre é o melhor
Pode parecer contraditório, mas um olhar estratégico sobre o caixa da empresa ajustamento do foco em relação às vendas: não é sobre vender mais, mas sobre vender melhor, considerando a rentabilidade da corporação e os riscos para, então, fechar bons negócios.
2 – Mantenha análises refinadas
“Crédito do passado não é crédito do futuro”, diz o especialista, enfatizando a importância de manter o rigor e a frequência das análises.
3 – Tome decisões mais cautelosas
Viabilizar os negócios junto aos clientes é fundamental, porém, alguns cuidados devem ser resguardados, como evitar grandes descontos apenas para fechar vendas e reavaliar o portfólio de produtos de acordo com a rentabilidade e estratégia para o segmento de atuação.
Engajamento vale ouro: diálogo entre departamentos é indispensável
O momento requer união de esforços entre os diferentes setores das corporações. “As empresas são uma grande engrenagem, cujas ações devem ter conexões”, ressalta Mustrangi. Nesse sentido, torna-se crucial que os departamentos estejam bem alinhados.
Essa integração de setores será estratégica, desde a visão diagnóstica em relação aos negócios até o entendimento das ações de cada departamento com foco em objetivos comuns de curto, médio e longo prazos.
Por exemplo: o setor de Crédito poderá compreender melhor potenciais de clientes com informações que chegam ao setor de Vendas e vice e versa. Ao mesmo tempo em que o Contas a Pagar terá uma visão mais clara sobre ações implementadas pelo RH e assim por diante. Com esse olhar, o terreno fica mais fértil para insights salutares e ações conjuntas. Portanto, engajamento é a palavra de ordem para superar os desafios do presente e do futuro.
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